Laurimar Leal

Laurimar dos Santos Leal nasceu em Santarém, Estado do Pará, norte do Brasil, em 24 de julho de 1939. Filho de Joaquim de Sousa Leal e Julieta Brígida dos Santos Leal, foi criado pelas tias Raquel e Judith de Sousa, suas primeiras educadoras. Já na infância manifestava dom artístico. Com nove (9) anos começou a fazer artesanato de cerâmica, e fez o primeiro trabalho artístico: um presépio com os reis magos para a Prefeitura Municipal de Santarém. 

Iniciou estudos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Profa. Hilda de Almeida Mota, no antigo Teatro Vitória de Santarém, e no quarto ano primário foi para a Escola Estadual de Ensino Médio Álvaro Adolfo da Silveira. Fez o quinto ano primário no antigo Grupo Escolar Barão de Santarém, hoje Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Frei Ambrósio. O ginásio estudou no Colégio Interno Seminário Franciscano de Ipuarana, na cidade de Campina Grande, Estado da Paraíba, no nordeste brasileiro. Voltou a Santarém no 2º ano do Científico, que concluiu no Colégio Dom Amando, tradicional instituição privada católica do Município. 

Evoluindo do artesanato de cerâmica, experimentou a pintura, a escultura, a música e o restauro, criando também figurinos e adereços para o carnaval santareno. No início de 1960 formou o conjunto musical Os Brasas, do qual foi cantor e intérprete.

A imagem é o primeiro quadro de Laurimar Leal, que é uma cópia do artista francês Monet. Na obra, um homem a uma mulher ao centro da imagem, e ao fundo, campos de plantações.

Primeiro quadro do Laurimar Leal – essa pintura é cópia de Manet, que serviu como exercício para um belo aprendizado. Ano: 1961. Fotografia: Tamara Saré.

Em 1961 foi para o Rio de Janeiro-RJ, onde frequentou a Escola de Belas Artes que havia no Bairro do Flamengo, e lá floresceu a paixão pela pintura que aperfeiçoou durante cinco anos, retornando a Santarém em 1966.

Inquieto, inventivo, nos anos 1970 fundou a Escola de samba Ases do Samba, em parceria com Renato Aurélio de Carvalho Sussuarana, poeta que fazia letras dos sambas enredos da escola. Juntos criaram fantasias, alegorias e adereços que premiaram a Escola de Samba em diversos desfiles de carnaval na cidade de Santarém.

No correr de 1978 Laurimar mudou-se com uma equipe de auxiliares para o Município de Monte Alegre, Pará, a convite do então Prefeito, Coronel Antônio Carlos Nunes, onde ficou cerca de dois anos. Lá fez trabalhos de pintura, escultura, e organizou a decoração do carnaval reproduzindo elementos rupestres da Serra da Lua. Restaurou a Praça da Igreja de Santa Luzia com temas culturais regionais realçando a miscigenação entre indígenas, negros e brancos, nela fazendo esculturas deles (um índio, um negro e um branco).

De volta a Santarém, no ano de 1980 foi contratado pela Companhia de Fiação e Tecelagem de Juta (TECEJUTA), onde ganhou um espaço próprio para desenvolver sua paixão pela pintura. Sempre fazia as tintas que usava. Foram anos gloriosos, de expressiva e densa produção artística, que o fez admirado por todos na região e no Pará. Suas obras ganharam espaço e reconhecimento no meio artístico em geral pela formosura, estilo e beleza, sendo adquiridas por turistas de todas as partes do Brasil e do mundo que chegavam a Santarém.

Em 1989 recebeu a visita do grande paisagista Roberto Burle Marx, que vivia no Rio de Janeiro-RJ. Conta-se que Burle Marx veio à região Oeste do Pará fazer um trabalho para uma grande empresa mineradora naquele ano de 1989, e fez questão de vir a Santarém para conhecer pessoalmente o artista Laurimar Leal, de quem tornou-se admirador e amigo.

Sua produção eclética incluía artesanato com representações da arte indígena em cerâmica. A pedido de gestores municipais fez diversas esculturas que adornam praças em Santarém, sendo notáveis as de “São Pedro Pescador” (Praça do Pescador), do “Escravo Liberto” (Praça da Liberdade), de “Santa Clara”, “Nossa Senhora de Lourdes” e “Santa Bernadete” (no Colégio Santa Clara), de “São José Operário” e de “São Sebastião” (na Praça de São Sebastião), e de “São José” na Igreja da localidade de São José, no Planalto santareno da estrada BR 163. Fez reproduções gigantes de peças com motivos indígenas tapajônicos na Praça Barão de Santarém, vasos de cariátides, urnas funerárias e muiraquitãs, que são visita obrigatória para os amantes das artes.

Como restaurador realizou trabalhos na Catedral de Nossa Senhora da Conceição e na antiga Prefeitura de Santarém, hoje Espaço Cultural João Fona. Também restaurou pinturas na Igreja de São Sebastião e na de São Raimundo Nonato em Santarém, e na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira do Município de Aveiro, Pará.

No ano de 1995 fez intercâmbio cultural em Paris, França, a convite da instituição não-governamental Sol 3. Morou no Chateau de Poleon nº 17.700, em Saint-Georges-du-Bois, comuna francesa na região administrativa do Loire, departamento de Sarthe, distante cerca de 220km de Paris. Ficou na França cerca de três (3) meses, e lá dedicou-se à pintura de quadros sobre lendas amazônicas. Os críticos de arte franceses qualificaram as obras de Laurimar como de estilo surrealista amazônico. O surrealismo foi um movimento artístico e literário nascido em Paris na década de 1920, caracterizado pela criação livre, e objetivava conectar elementos do mundo real com outros oníricos, gerando realidades com seres inanimados (no caso, amazônicos) a partir da imaginação do artista.

A imagem, que é o último quadro de Laurimar, retrata um barco à vela do período medieval. Ao fundo, o pôr-do-sol.

A última obra do Laurimar Leal – Barca Rola (Canoa à Vela). Pintura feita no final da carreira do artista, quando ele mostra sua agonia diante aquilo que ele sabe que não vai superar. Uma obra que com certeza não foi acabada. Essa foi sua última obra. Fotografia: Tamara Saré.

De volta a Santarém foi convidado pela Prefeitura para dirigir o Centro Cultural João Fona, no qual ficou vinculado por muitos anos, mantendo produção paralela de pinturas com motivos regionais, representações da cultura indígena, suas crenças, valores, tradições e elementos próprios das cerâmicas de tupaius, conduris, pauxis, gurupatubas e mundurucus, que habitaram esta parte da Amazônia. Suas obras estão espalhadas por diversos países sendo, revelando o inato talento de um artista que ganhou o mundo.

Em 2005 Laurimar perdeu praticamente toda a visão em decorrência de glaucoma, passando a enxergar vultos. Ainda assim continuou a pintar quadros, agora usando somente as mãos, criando uma arte de característica especiais. Depois de algum tempo não teve mais condições de pintar e produzir obras, por perda total da visão.

Em 2010 sua vida foi objeto do documentário “Laurimar e outras lendas”, constituído de oito (8) partes, dos autores Miguel Ângelo, Chico Caprário e Bob Barbosa, e assistência técnica de Bira Cabral.

Laurimar é aposentado e recebe uma pensão do Município de Santarém, justa homenagem da cidade a qual dedicou a vida artística. Sem ter mais condições de produzir novas obras de arte, deixa um legado artístico elevado, sublime, de valor inestimável, representativo da cultura, costumes, lendas e tradições dos povos originários desta parte da região amazônica.

Com sobriedade, autodomínio, discrição, equilíbrio, profundidade e criatividade imensa, Laurimar Leal consolidou-se como um dos maiores artistas da história de Santarém e da Amazônia brasileira, destacando-se pela especial e intensa dedicação à pintura e à escultura.

Retrato do artista Laurimar leal em tela de têmpera. A imagem tem tons fortes de amarelo e verde, e Laurimar está no centro da tela, olhando para o horizonte.

Retrato do artista Laurimar Leal, confeccionado por Paulo César Nascimento em tons de azul, branco, verde e ocre. Fotografia: Tamara Saré.

As informações contidas nessa seção advêm de livros que contam a história dessa personalidade paraense. Segue abaixo as referências:

  • SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Tupaiulândia: Edição Especial Ilustrada Comemorativa aos 500 anos do descobrimento do Brasil. 3ª. ed. Santarém – PA: Gráfica Tiagão, 1999. 544 p. v. 1.
  • FONSECA, Wilde Dias da. Santarém: Momentos Históricos. 1ª. ed. Belém-PA: Falangola, 1984. 136 p. v. 1.